Papa João XXI



O Papa João XXI foi português e chamava-se Pedro Julião ou Pedro Hispano. Ignora-se a data exacta do seu nascimento em Lisboa, mas deve ter ocorrido entre 1210 e 1220. 
Era filho de Julião, supondo-se que o apelido do pai fosse Rebello. Foi ainda jovem estudar para França, para Paris ou Montpellier. Regressado à Pátria, desempenhou sucessivamente os cargos de Deão da Catedral de Lisboa, Tesoureiro Mor do Porto, Arcediago de Vermoim, Prior Mor da Colegiada de Guimarães.
De 1245 a 1250 dizia-se que foi professor de Medicina na Univerdade de Siena.
Foi depois eleito pelo Cabido de Braga arcebispo desta Diocese, ao mesmo tempo que partia como representante da Igreja Portuguesa ao Concílio Lugdunense, convocado por Gregório X em 27 de Março de 1272. Este Papa fê-lo Cardeal e deu-lhe a Mitra Tusculana, no ano de 1273.
Foi escolhido para Papa em 13 de Setembro de 1276 e veio a falecer em 19 de Maio de 1277. Está sepultado na Catedral de Viterbo.
O Papa João XXI era certamente um homem culto. Mas o facto de ser português, levou a que, a partir do sec. XVI, o passassem a chamar Pedro Hispano de que resultaram inúmeras confusões. Naquela altura, Hispania identificava-se com a Península Ibérica, o que significa que todos Pedros nela nascidos eram “Petrus Hispanus” (quase todos os livros eram então escritos em latim).
Pouco a pouco foi-lhe sendo atribuída a autoria de todos os livros assinados por um Pedro Hispano, o que representava muitas dezenas de livros das mais variadas disciplinas: filosofia, lógica, medicina, psicologia, etc.
Os estudos recentes do Prof. José Francisco Meirinhos da Fac. de Letras do Porto e do Dr. Angel D'Ors da Universidade Complutense de Madrid provam que os livros que lhe eram atribuídos durante o sec. XX devem ser distribuídos por três ou mais autores, sendo até duvidoso que o Papa João XXI tenha escrito mesmo o Thesaurus Pauperum, ou tenha sido professor de Medicina. As edições de Lyon, de 1525 e de Veneza (tradução italiana) de 1500 (links para a BNF, em baixo), referem já o nome de Pedro Hispano:
Incipit pauperum tesaurus summi medicorum monarche D. Joannis XX. Ponti. maxi. qui Petro Hyspano ante nomen erat. (P. 502  .pdf) 
Qui incomincia il libro chiamato tesoro de poveri compilato et facto per Maestro Piero Spano.    
A certa altura (sec. XVI/XVII), começou também a ser-lhe também atribuída a autoria de diversas obras de filosofia, nomeadamente das Summulæ Logicales (ou Tractatus), uma obra de Lógica tão importante que, durante 300 anos, tal texto foi utilizado como compêndio de estudo de Lógica nas Universidades.
Para muitos autores, o Petrus Hispanus que escreveu o Tractatus foi um monge dominicano  (da Ordem dos Pregadores) espanhol. Um argumento de peso é o que se refere à menção que, na Divina Comédia, Paraiso, faz Dante (Paraíso, Canto XII, 133-135):
Ugo da San Vittore è qui con elli, e Pietro Mangiadore e Pietro Spano, lo qual giù luce in dodici libelli; 


“Dodici libelli” são os doze livros (grandes capítulos) em que se dividem as Summulæ Logicales. Com toda a evidência, Dante refere-se ao autor do livro. Mas, se o chama Pietro Spano, é porque é pessoa diferente do Papa João XXI, até porque Dante no poema se refere aos Papas pelo nome que estes adoptaram como Pontífices. Aliás, só já próximo do sec. XX, é que os comentadores de Dante começaram a identificar Pietro Spano com o Papa João XXI (ver quadros a seguir).

A discussão continua. A investigação é difícil, pois separam-nos dos factos mais de 700 anos.


Parece certo que não pertenceu a nenhuma Ordem Religiosa e diz-se até que não gostava de frades.

Fontes: Arlindo_Correia 

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